
O meu contacto com a fotografia começou tardiamente, já na casa dos vinte e em pleno ambiente digital. Não herdei a prática nem a paixão; apenas a curiosidade de olhar através de um visor pela primeira vez e perceber que, de repente, uma parte do mundo cabia ali dentro. A sensação inicial de descobrir o desfoque, a composição e o enquadramento foi o que me empurrou para a aprendizagem — primeiro intuitiva, depois estudada.
Com o tempo, encontrei referências que moldaram o meu olhar e me mostraram que era possível fotografar pessoas e acontecimentos com simplicidade, respeito e intenção documental. Foi assim que a fotografia se tornou, para mim, menos sobre criar imagens e mais sobre observar: estar presente, silencioso, e tentar compreender o que acontece antes de acontecer.
Hoje, olhando para trás, percebo que uma parte dessa prática se perdeu naturalmente com o tempo, substituída por outras prioridades e formas de viver. Continuo dividido entre viver o momento ou registá-lo; quase sempre escolho a primeira opção, e talvez por isso estas fotografias ganhem agora um valor ainda maior — são testemunhos de um período em que olhava o mundo de outra maneira.
Este é um pedaço de história que permanece, então, como a moldura invisível dessas imagens: um pequeno registo sobre quem eu era quando fotografava, e sobre o modo como procurava, através da câmara, compreender um pouco mais sobre quem me rodeava.